Odemira e o Artesanato
Situado no Baixo Alentejo, junto ao Atlântico, Odemira é o maior concelho do país. A sua paisagem contempla um conjunto de diferentes realidades geográficas que lhe conferem bastante diversidade: o mar, a charneca, a planície e a serra. O rio Mira, vindo da serra do Caldeirão, atravessa o concelho, de sul para norte indo desaguar em Vila Nova de Milfontes.
Historicamente, a vila de Odemira, situada à beira do rio Mira, foi um ponto de confluência de diversos produtos de toda a região circundante (gados, cereais, minérios, mel, entre outros) , que daí seguiam para os portos de Lisboa ou Setúbal.
Uma região desde sempre periférica e pouco povoada, com grande número de isolados, desenvolveu inúmeras actividades artesanais, algumas das quais subsistem.
Inúmeras profissões, faziam parte do dia-a-dia da vida agrícola local. Em sistema de itinerância, deslocavam-se aos montes os abegãos , os cesteiros, cadeireiros, ferradores, tosquiadores e outros que assim ganhavam o seu sustento. Por outro lado, oleiros, latoeiros, sapateiros, carpinteiros, ferreiros, vendiam os objectos que faziam falta nas diversas actividades e por fim, no âmbito da vida doméstica, ainda se faziam trabalhos de tecelagem, traparia, miniaturas decorativas, etc… para uso nas diversas casas e apoio ao ganha-pão do agregado familiar.
O grande peso da vida agrícola e do pastoreio, a par com a paisagem e os recursos naturais moldaram o artesanato local produzindo peças de uso diário tanto para as actividades agrícolas como para a vida doméstica e social.
Com o abandono das terras e a vinda de populações de outras partes da Europa para a região desenvolveram-se também actividades artesanais com outras estéticas que reflectem outras culturas de origem.
Alguns usos do artesanato mudaram deixando de estar ligados ao uso diário na vida económica, mas ganharam um novo lugar pela carga identitária e cultural que detém e que marca a diferença em relação à produção industrial de alta escala.
Muitos, no entanto, mantêm o seu uso, como as mantas, as cadeiras, os pratos e as colheres, as violas, os tapetes, etc. Outros transformaram-se em objectos decorativos que remetem para a cultura e identidade de um tempo perdido que permanece nos nossos corações.
Abegoaria, produção de mobiliário em madeira, instrumentos musicais (com especial relevo para as violas campaniças), cestaria em vime, empalhamento de cadeiras, traparia, joalharia, produção de cajados, cerâmica e tecelagem são as actividades de maior expressão actual, realizadas pelos sócios da CACO.
Ana Tendeiro